Como passei a trabalhar full time a partir de casa
Cada vez que falo sobre o facto de trabalhar full time a partir de casa, surgem sempre algumas questões sobre este assunto.
Sobre a minha experiência
Já passei por um bocadinho de [quase] tudo. E todas estas experiências, boas e más, foram uma aprendizagem enorme que me ajudaram a melhorar a forma como hoje dou explicações.
Primeiro que tudo, quero dizer que não foi do dia para a noite que passei a trabalhar full time a partir de casa. Apesar de o fazer há mais de vinte anos, só nos últimos quinze é que o faço a tempo inteiro.
Nestes vinte anos posso dizer que já fiz algumas escolhas pouco acertadas mas acredito que foram erros necessários para ter a tranquilidade e qualidade das explicações que dou actualmente.
Deixo-vos então uma série de dicas, com base na minha experiência, na tentativa de ajudar quem queira fazer deste serviço o seu sustento.
De salientar que não é um trabalho que enriqueça, pelo menos a nível financeiro. E estabilidade também há pouca. No entanto, tenho uma qualidade de vida que justifica e muito todas as desvantagens que esta profissão tem.
Além disso, adoro o que faço. Vejo no meu trabalho o sentido e propósito da minha vida. Todos os dias são uma oportunidade para fazer uma diferença (boa) na vida dos miúdos.
Dicas para darem explicações full time a partir de casa
Não se atirem de cabeça
Se tiverem um emprego, permaneçam no mesmo até conseguirem uma quantidade de alunos que vos permita ter alguma estabilidade. Muitas vezes não têm outra escolha porque há contas para pagar e não podem despedir-se sem mais nem menos. No entanto, mesmo para quem pode fazê-lo, não o aconselho.
Nesta área é preciso ganhar a confiança dos pais (e dos alunos também) e isso não é algo que se consiga de imediato. Comecem por dar explicações ao final do dia e aos sábados. O importante é conseguir manter esses alunos, não só durante todo o ano lectivo mas nos anos seguintes também (já explico como mais à frente).
Concentrem-se na qualidade e não na quantidade
Tenho experiência a dar explicações em grupo e individual, se bem que a nível particular apenas o fazia a dois alunos em simultâneo, de preferência do mesmo ano. No tempo que trabalhei num centro de estudos, tinha cerca de dez alunos numa mesa, do 7º ao 9º ano. Isto fez-me perceber rapidamente que explicações individuais (o que faço actualmente) são a melhor solução, por vários motivos.
Não só consigo dar mais atenção às necessidades de cada aluno (cada um tem o seu ritmo de aprendizagem), como evito que um se distraia enquanto ajudo o outro. A par disto, os alunos sentem-se mais à vontade para tirarem as suas dúvidas se estiverem sozinhos do que acompanhados. E por último mas não menos importante, muitos pais têm preferênca por explicações individuais em vez das de grupo.
Optem por mensalidade em vez de preço/hora
Nos primeiros tempos cobrava um valor por hora mas rapidamente mudei para mensalidade. A razão é simples, os miúdos faltavam constantemente e só vinham na véspera dos testes.
Ora, escusado será dizer que é muito difícil acompanhar um aluno que só vem ocasionalmente e consequentemente os bons resultados demoram a chegar. Por isso esta alteração veio resolver três problemas de uma só vez.
Além de responsabilizar mais os alunos para serem assíduos (e já agora os pais também porque se os alunos faltavam era porque os pais permitiam…), também se nota logo nos bons resultados que alcançam mais rapidamente. Com esta mudança consegue-se também alguma estabilidade financeira. Tudo pontos positivos, portanto.
Criem empatia com o aluno
Dos melhores conselhos que vos posso dar. Digo-vos que em vinte anos de explicação, apenas fiz publicidade dos meus serviços uma vez (através de correio publicitário) e foi um fiasco total.
A melhor publicidade que podem ter é aquela feita entre os pais, através de recomendação e, melhor ainda, entre os próprios alunos. A maior parte que chega até mim vem por recomendação.
E quando os miúdos se sentem à vontade para tirarem todas as suas dúvidas (por mais ridículas que achem que sejam), maior probabilidade existe desse aluno tirar bons resultados, continuar nos anos seguintes e inclusivé trazer outros colegas.
Tenham um cantinho só para as explicações
Tenho a sorte de ter uma divisão da casa só para dar as explicações mas se não tiverem essa possibilidade, tentem arranjar um cantinho próprio para o efeito. O aproveitamento da varanda, de um canto da sala ou da cozinha podem ser soluções.
Também já aluguei um espaço comercial pequeno (antes de vir morar para a casa onde estou hoje), numa zona de grande visibilidade, onde recebi muitos alunos novos. No início podem começar por trabalhar em casa e depois tentar passar para uma loja pequena, bem situada perto de escolas e com a fachada bem identificada com os vossos serviços.
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Tenham um serviço diversificado
A minha área de formação é gestão, pelo que o meu foco é mais na matemática. No entanto e porque gosto muito de outras disciplinas, acabo por fazer o que eu chamo de acompanhamento escolar.
E isso é música para os ouvidos dos pais. Explicações individuais, a várias disciplinas, com ênfase nas mais problemáticas como matemática, português e inglês terão, sem dúvida, mais procura.
É importante referir no primeiro contacto as disciplinas com as quais estão mais à vontade.
Evitem que cada aluno faça muitas horas por semana
Parece estranho estar-vos a dizer isto, não é? Afinal de contas, quanto mais horas um aluno fizer, melhor. No entanto e por experiência própria, noto que quando isto acontece o aluno fica demasiado dependente da minha ajuda e pouco autónomo (e isso nota-se imenso nos testes).
É claro que se os pais pedirem mais horas, não recuso mas deixo sempre a sugestão de começar com menos tempo e ir aumentando caso seja necessário. Regra geral, esta sugestão é bem aceite. Só para os alunos do 1º ciclo é que não dou este conselho porque os pais procuram apoio para fazer os trabalhos de casa, que costumam ser diários.
Dicas para os alunos melhorarem os resultados
As dicas ou regras que vos escrevo de seguida são aquelas que aplico no meu trabalho como explicadora e que me têm trazido bons resultados. Afinal, se consigo dar explicações há cerca de vinte anos, por alguma razão há-de ser.
Evitar explicar de forma diferente do professor
Esta é a regra mais importante e aquela que apenas quebro em situações muito pontuais (quando, por exemplo, um professor facilita e permite determinadas situações porque lhe dá jeito que os alunos tenham melhores resultados mas eu sei que isso prejudica o aluno a longo prazo). Sou eu que me adapto à forma como foi explicado e não ao contrário. Isto acontece com frequência no 1º ciclo, quando aprendem vários conceitos pela primeira vez.
Usar linguagem simples e com muitas analogias
Uma das coisas que os alunos me dizem com frequência é que gostam das minhas explicações porque eu uso uma linguagem simples e faço muitas analogias. Uso isto não só porque os ajuda a compreenderem mais facilmente o raciocínio mas também a perceberem como utilizam o que aprendem na vida real (o que, consequentemente, melhora a motivação para aprenderem).
Nunca deixar o aluno a fazer uma ficha completa sem apoio
Já recebi vários alunos vindos de centros de estudo e de explicadores particulares que me diziam que eram deixados a fazer fichas completas e só depois eram corrigidas. Por aqui não faço isso. Normalmente vou corrigindo pergunta a pergunta, precisamente para que o aluno possa tirar alguma dúvida que surja e assim poder fazer os exercícios seguintes de forma correta. Em matemática é muito importante que isto aconteça.
Respeitar a forma de aprendizagem de cada aluno
Nunca esquecer que cada aluno tem a sua forma própria de aprender. Uns são mais rápidos, outros precisam de um pouco mais de tempo. Alguns memorizam apenas a ler, outros precisam de escrever. Há alunos que entendem um raciocínio de uma forma, outros de outra. É preciso respeitar.
Não serve de nada tentar impingir a minha forma de raciocinar se o aluno depois não consegue aplicar isso na escola. Um exemplo muito clássico é quando aprendem a fazer adições e subtrações com números negativos. Para uns é mais fácil sabendo as regras, para outros faço uma analogia com um elevador.
Ensinar o aluno a ser mais organizado
Já perdi a conta aos alunos que melhoraram os resultados a matemática apenas pelo simples facto de serem mais organizados na resolução dos exercícios. Se no papel está confuso, imaginem como estará na cabeça!
Evitar dar logo as respostas
Esta dica fui aprendendo com a experiência. Fazer um esforço para não dar logo a resposta mas antes fazê-los pensar, dá mais resultado. Além de fazer com que estejam mais atentos, ajuda-me a perceber a forma como estão a pensar e muitas vezes acabo por fazer maravilhas na autoestima porque aproveito partes do que escreveram.
Tirem todas as dúvidas sem humilhar
Uma das coisas que fui percebendo nesta profissão é que a aprendizagem de cada aluno é influenciada por diversos factores e, por esse motivo, vão surgir dúvidas daquelas que vos fazem pensar “como é que o aluno chegou até aqui sem saber isto!?”.
O conselho que dou é evitarem ficar surpreendidos ou humilharem o aluno. O facto de não ficarem incomodados pela dúvida básica e de se concentrarem a explicá-la, fará com que o aluno se sinta cada vez mais à vontade para falar de outras dificuldades.
Conversem com os alunos
Criar empatia com os alunos, lembram-se? Interessem-se genuinamente pelo que eles têm a dizer. Por vezes precisam de desabafar sobre as suas frustrações e medos, falar das suas conquistas e dos seus objectivos. Não têm necessariamente que dar conselhos ou criticar, basta apenas que estejam lá para os ouvir e apoiar.
Reforço positivo sempre!
Tem mais impacto fazer sobressair o que conseguiram responder bem do que aquilo que erraram, garanto-vos. Ainda não conseguiram a positiva mas subiram a negativa, então é nisso que foco a atenção. Não conseguiram resolver o exercício todo mas conseguiram parte dele, é isso que faço questão de salientar.
Não tiveram uma positiva alta mas tiveram positiva, isso é que realmente importa. Tiveram uma resposta errada mas pelo menos tentaram responder. E por aí fora. Há tantas mas tantas hipóteses de melhorar a autoestima e motivação dos alunos, que é uma pena que não sejam mais aproveitadas.
Sugestões de livros
Não quero terminar sem antes vos recomendar a leitura de alguns livros que tiveram um grande impacto na forma como dou as explicações e que contribuiu muito para o sucesso que tenho hoje.
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E assim termino as dicas que vos queria transmitir. Alguma questão é só deixarem na caixa de comentários abaixo, que responderei o mais brevemente possível.
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Adorei o artigo! 😘 Uma profissional de excelência! Continua a publicar, vale muito a pena e assim também viv matando saudades! Beijinhos e bom trabalho!
Top!!! Também trabalho em casa a dar estudo acompanhado, escreveu muito bem!!
ola! Ja acompanho o blogue ha uns anitos, e confesso que me lembro de si por dar explicações etc.. e agora vejo-me na eminencia de precisar para a minha filha (8 anos) com um possível diagnóstico de Discalculia e/ou deficit de atencao… será que lhe posso enviar email? Seria para Lisboa… não sei se será possível…
Obrigada,
Querida Sofia, que saudades tuas! Obrigada pelo carinho. É sempre bom ler estas palavras. Temos de matar saudades pessoalmente. A ver se combinamos um café. Como está a tua bonequinha?
Bjs e um abraço enorme!
Olá Tânia.
Que bom encontrar uma colega de profissão!
Fico feliz por ter gostado do post, sinal que se deve rever naquilo que disse.
Bjs e obrigada pelo comentário.
Olá Selva Urbana (não sei o seu nome).
Fui ver o que era discalculia (não conhecia o termo) e já aprendi imenso. Só por isso já valeu este comentário.
Claro que pode enviar email. Mesmo que não seja possível a explicação, posso tentar dar-lhe algumas dicas para ver se ajuda. O email é aproveitaravidaja[at]gmail.com
Bjs
Obrigada, Anabela!! 😊
Um artigo 5*!! Sem dúvida!! Para mim, que pondero seguir esse caminho, será um "guia", com certeza!! E, mesmo continuando no registo atual (estudo acompanhado em sala de estudo), ajudará também!! Asdicas com os miúdos, quem trabalha com eles sabe, sem qualquer dúvida, que é assim mesmo!!
Um beijinho!!
Boa tarde Anabela, já sigo o blog há uns anos, mas penso que nunca tinha comentado. Não tenciono começar a dar explicações até porque tenho jeito "zero", mas sou eu que dou apoio no estudo ao meu filho, que está no 4. ano e à minha filha que vai entrar para o 1. ano mas já vai trazendo pequenos trabalhos. Para o ano vai ser ainda mais complicado acompanhar, por isso gostei muito das dicas e creio que me podem ajudar. Muito obrigada pela partilha e pela generosidade. Um beijinho
Olá Maria Inês.
Muito obrigada por este comentário tão carinhoso. Este tipo de mensagem é que me motiva a fazer estes artigos tão longos. Sentir que ajudará alguém é suficiente para ter vontade de continuar.
E descobri mais uma colega de profissão 🙂
Bjs
Olá Elisabete. Obrigada pelo comentário.
Que bom saber que este post é abrangente e serve não só para quem quer começar a dar explicações mas também para os pais que vão dando apoio aos filhos em casa.
Bjs
Parabéns Anabela! Tenho a certeza de que o seu testemunho vai ser muito motivador:) Beijinho.
Obrigada Manuela. Espero que seja útil a muitas pessoas.
Bjs
Eu dou explicacoes (nas casas dos alunos) ao final do dia e sabado. Tudo o que fala e bem verdade… especialmente em relacao a divulgacao dos servicos. Eu nao tenho capacidade de receber mais alunos e foram todos por recomendacao.
Bom trabalho
E sabe tão bem saber que as pessoas nos recomendam! É porque devemos estar a fazer um bom trabalho. É muito gratificante.
Bjs e bom trabalho também para ti
Boa noite!
Grata pela partilha!
Se pudesse, gostaria de saber se quando fala em alugar um espaço comercial, uma loja com visibilidade… Isso é possível com atividade aberta como explicador ou professor? Ou são já necessários outros requisitos? Alvarás ou autorizações?
Desde já agradeço
Joana
Olá Joana.
Eu penso que não é necessário nada. Desde que passe recibos/factura da sua actividade, tudo bem. Mas poderá sempre questionar junto de um contabilista ou das finanças. O que deverá ter é um contrato de arrendamento legal. Penso que isso é mais importante do que a actividade em si.
Bjs